sexta-feira, 26 de novembro de 2010

J



J,

Lembro-me do que senti e pensei no momento em que te concebi na minha imaginação, pela primeira vez, ainda me atravessavam a espinha as palavras da tua mãe, a dizer que eu ia ser tio.

Quando a tua avó me disse que já o era, tio de menos que 3kg de gente, o arrepio tornou-se orgulho e em vontade, enorme, de te fazer a menina mais feliz do mundo…

Depois de ouvir, ainda que longe, a voz derretida do teu pai, e saber que já tinhas sido acarinhada por tantos, fez-me parecer uma eternidade, a ida de Lisboa até ti, com noite cerrada. Convencer o porteiro a deixar-me entrar foi fácil, tamanha a vontade e o desejo, agravados pelo sentimento de inveja e de ameaça de perca de favoritismo, naquilo que só aos tios diz respeito.

Pegar-te foi sentir que eras real e parte do meu mundo para sempre! Ver nas tuas mãos as da tua mãe – um pouco das minhas também – foi tomar percepção de que tens um pouco de mim, que a vida passa, os anos vão atrás, mas que a natureza se encarrega de nos deixar cá… por muito pouco que seja.

É duro ser caixeiro viajante, e não estar sempre perto de quem tanto se gosta. Agora te confesso o quanto é doloroso, depois de umas semanas longe, chegar ao pé de ti e sentir a tua deliciosa vergonha, a esconder-te o olhar e a fechar-te o sorriso, como se eu um desconhecido fosse.

Um ano depois, J, ainda mais bonita do que alguma vez tinha sonhado, é óptimo ver-te arriscar nos passos trôpegos, ouvir-te discursar com as palavras que só para ti existem e perceber que o nosso bem depende do teu… o nosso sorriso depende do teu!

E assim será para sempre.

Um beijo deste teu amigo!

Tio Zé Rui