sexta-feira, 6 de julho de 2007

A escala de Barbas (adaptação livre e não autorizada)

O português, já se sabe, pela-se por festas...Qualquer notícia de somenos torna-se pretexto para um carnaval de dimensões desproporcionais: a rapaziada sai para a rua, buzina como se não houvesse amanhã, grita histericamente e esquece, por momentos, que o IVA aumentou três vezes em quatro anos.

O futebol e o Benfica, em particular, são os melhores exemplos desta euforia esquizofrénica. Secundados por uma imprensa tao ridícula (três diários desportivos num país tão pequeno!!!) como histérica, os adeptos do Benfica contam-se entre os mais crédulos da Criação. Quem esquece a saga de há quatro anos, iniciada com o Dream Team, prosseguida com o Dream II e o Benfica de Ouro? Crédulos, os fiéis acorreram à Luz, ciosos do milagre de multiplicação. Em vez das rosas de D. Isabel, queriam golos, muito golos. Debalde!

Tenho para mim que o adepto benfiquista representa um estádio menor de desenvolvimento cognitivo humano. Falta-lhe o gene do bom senso, que não se compra na botica. Falta-lhe o da moderação, que não abunda na farmácia. E falta-lhe o da inteligência, mas esse, amigos, remonta aos pais e demais antepassados. Ao longo dos anos, os sócios do clube elegeram democraticamente uma legião de cabotinos para os liderar. João Santos dormitava nas assembleias gerais. Jorge de Brito vivia numa dimensão paralela com duendes e elfos misturados com golos do Eusébio. Manuel Damásio terá sido o presidente mais ingénuo que Pinto da Costa teve o gosto de deglutir. Chegou depois Vale e Azevedo, eterno ídolo para os produtores de qualquer blog, homem sem mácula e de pelo na venta, dotado de visão de futuro e de imenso altruismo na gestão da causa. Vale e Azevedo transformou para sempre a relação do Benfica com os seus credores e com a sociedade em geral, mas, como todos os grandes líderes, de Gandhi a Mandela, teve razão antes de tempo. Prenderam-no, como Gandhi e Mandela, e libertaram-no como Gandhi e Mandela. Talvez um dia ele volte para acabar o trabalho. Quando Manuel Vilarinho tomou posse, alguns adeptos rivais temeram, resignados, o aparente regresso à normalidade do clube. De penalty em penalty, Vilarinho mostrou-lhes que não havia motivos para receios. Luis Filipe Vieira é talvez o líder benfiquista mais parecido com Vale e Azevedo. Desperta os mesmos instintos primários, as mesmas explosões guturais, as mesmas euforias esquizofrénicas, que transformam um 12º lugar na melhor coisa que poderia suceder ao Benfica. Pergunta fundamental: porque votam os sócios do Benfica nestes talibãs?

Para responder, preciso de introduzir um conceito revolucionário na discussão. Nestes anos todos, qual é a imagem que melhor se coaduna com o Benfica? As botas voadoras de Pacheco na final de Estugarda com o PSV? O penalty falhado de Veloso no mesmo jogo? O sorriso resignado de Enke em Vigo, depois de fazer sete vezes a mesma viagem ao fundo da baliza? As imagens de Vale e Azevedo em prisão domiciliária? O golo do Luisão ao Sporting? Não, amigos, a imagem que melhor descreve o Benfica é o Barbas de cócoras no dia da inauguração do novo estádio, deglutindo garbosamente pedaços de relva para "exemplificar aos jogadores o que é o Benfica". Os terramotos tem escalas de Richter e Mercalli para medir a intensidade e a magnitude. Eu proponho a escala de Barbas para medir o benfiquismo. O taxista Jorge Máximo, homem que se exalta nas assembleias gerais, merece claramente um 10 na escala de Barbas. O moderado Toni, sempre pronto a ver mérito no adversário, merece um 3. E por aí adiante.

Regressando à pergunta original, porque votam os sócios nestes dirigentes? Porque maioritariamente o sócio do Benfica merece entre 8 e 10 na escala de Barbas. De certa forma, o Barbas é o Benfica. E isso, meus amigos, isso diz quase tudo!

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