terça-feira, 19 de maio de 2009

A religião é uma coisa engraçada...

Face ao recente projecto-lei apresentado pela Juventude Socialista, que permitiria às Escolas Secundárias a distribuição gratuita de preservativos aos alunos, choveram as religiosas reacções indignadas...

Eu sempre fui mais liberal, e até posso ouvir as vossas opiniões contrárias, mas tal como em outros assuntos, o enterrar a cabeça na areia é ridículo...

Mas mais do que propriamente discutir o projecto-lei em si, é interessante ver a postura de cada uma das igrejas face ao problema...

A Igreja Católica é a primeira a reagir... Contra! Não se devem distribuir preservativos na escola, porque isso vai promover os contactos sexuais entre os alunos, e o sexo, tal como é, apenas deve ser feito, apenas, após o casamento. "Acho inconcebível que o Governo nos queira obrigar a acatar uma lei que vai contra a nossa consciência", disse padre Alfredo Cerca

A Igreja Muçulmana reage a seguir... Contra! O lider desta comunidade em Lisboa diz que o Islão não permite relações sexuais antes do casamento e entende que o projecto as vai incentivar. O sheikh David Munir sublinha, no entanto, que nada tem contra a existência de educação sexual nas escolas. “Falar sobre a educação sexual é não só o dever dos pais, mas também será positivo se a escola explicar. É bom que tenhamos a noção quando crescemos da nossa sexualidade. O distribuir preservativos é abrir uma porta, para que haja o contacto físico entre rapazes e raparigas, o que o Islão proíbe sem ser por casamento”.
A reacção é em tudo, então, semelhante à da Igreja Católica, no entanto alerta para a necessidade e o positivo que seria a existência de educação sexual na escola...

O líder da Comunidade Judaica adopta outra atitude... nada há contra a distribuição de preservativos nas escolas! O presidente da comunidade israelita de Lisboa, José Carp, concorda com a medida, mas reconhece que, entre os judeus portugueses, nem todos pensarão da mesma maneira. “Para mim faz todo o sentido e é uma medida importantíssima para acabar com a gravidez em jovens e situações às vezes dramáticas”.

As Testemunhas de Jeová lembram a importância da castidade até ao casamento, dizendo que, por isso, a distribuição de contraceptivos é indiferente. “Os nossos jovens sabem muito bem o que fazer, são criados e educados de acordo com aqueles valores, apreciamos muito a educação que Deus nos dá, vivemos de acordo com os valores que defendemos independentemente do que os outros façam”.

Dissecando cada uma das posições, a optar por alguma das religiões eu era sem dúvida Judeu. A opinião é livre de cada um, não há cá seguidismos nem cartilhas... A opinião do líder é de que se deve distribuir preservativos, para acabar com a gravidez juvenil, para prevenir DST's... Todavia a comunidade está aberta a ter diferentes opiniões...

Se não pudesse ser Judeu, seria Testemunha de Jeová... A nossa educação e os nossos valores são independentes do que os outros façam. Se a medida é benéfica para os outros, implementem.. para nós é indiferente porque não está consagrado nos nossos valores... Bravo! Apesar de não admitir opiniões diferentes dentro da comunidade... admitir a liberdade de escolha para os outros é nobre.

A posição da Igreja Católica é obviamente de maior peso, face à elevada percentagem de fiéis em Portugal. Tal facto dá à Igreja Católica uma voz mais decibélica, um poder acrescido em Portugal, que apesar de estado laico, se entrega muitas vezes ao populismo, sobretudo em anos de eleições.
Apesar de não concordar com a opinião acerca do tema, respeito-a... No entanto, custa-me a aceitar que a sua voz discordante implique com a não alteração da legislação, obrigando os Judeus (que podem estar ou não estar, consoante a consciência de cada um), Agnósticos, Ateus, entre muitos outros, a não ter os preservativos, que o estado se dispõe a ceder de modo a a acabar com o flagelo da gravidez juvenil e doenças DST.

A consciência de cada um não se faz com leis, mas com educação

2 comentários:

brunodg disse...

Acho que se perguntam, a Igreja Católica tem o direito a responder.
Eu tb acho que é capaz de dar mais asneira do que bons resultados. Por os putos do 7º ano a pensar seriamente em ter relações...

Mas continuando nesse assunto,não percebo porque é que a Igreja nunca pode dizer nada! Já ouvi muita gente dizer: "Esses gajos deviam tar calados que isto não é assunto para a Igreja" mas há assunto especifico para qualquer religião? Eles só estão a espalhar um ideal de vida soba a luz de novos acontecimentos. Quem não a segue, não é obrigado a cumprir.

Além do mais num estado democrático onde a maioria ganha e se a maioria é católica, então parece-me que aos outros todos não resta alternativa. É duro e para alguns injusto, mas como disse o Churchill: “It has been said that democracy is the worst form of government except all the others that have been tried.”

Quanto às leis e a educação... Acho que todos desejaríamos isso. Acho também que o grande avanço da civilização humana é a educação e o conhecimento. Acho é que para um estado sem leis ainda falta... Mas também estamos melhores:
http://www.ted.com/index.php/talks/lang/eng/steven_pinker_on_the_myth_of_violence.html


Não quero tomar partidos, só dar a minha opinião. :P

Zé Rui Peixoto disse...

Bruno,

Eu também acho que a Igreja Católica tem todo o direito de responder, de emitir a sua opinião, de espalhar a sua doutrina...

E também não digo que não tenham razão, acho que a distribuição de preservativos numa escola não faz qualquer sentido se lá puserem uma máquina no polivalente, ao lado da máquina de sumóis... em aulas de educação sexual acho que sim.

Mas o que aqui me realmente mais importa é a atitude e não é da Igreja Católica em particular, mas de todas:
Ponto 1 - A democracia faz-se no parlamento, é para lá que votam os Católicos, Muçulmanos, Hindus e os da Igreja Adventista do 7º dia (entre outros)...
Ponto 2 - Os fiéis de uma religião tem que ter todos a mesma opinião?
Ponto 3 - A educação, princípios e morais devem ser passados à sociedade (ou aos fiéis) em sede própria, devidamente fundamentadas e fazendo as pessoas ver que se trata da opção correcta. O erro, parece-me, está no conseguir passar a palavra e a ideia... Poucas são as pessoas que me transmitem os pensamentos de qualquer Igreja sem ser pelo que sabem via orgãos de comunicação social...