Menino não entra... (Gostava de ter escrito!)
Não gostei – continuo, aliás, a não gostar – da cobertura mediática do  ranking das escolas secundárias do país. Não vou discutir o método de elaboração  da lista, que se divide entre a crítica e o louvor – eu criticaria. Não discuto  as opções educacionais dos pais, que preferem um colégio unisexo a uma escola  mista. Nem levo esta modesta prelecção pelos trilhos da discussão em torno da  qualidade do ensino público face ao privado, e vice-versa.
Não. O que me  incomoda na forma como a comunicação social foi e vai destacando o assunto é o  sublinhar constante da teoria da divisão de sexos no ensino. Que como opção  ultrapassa o aceitável – haja liberdade de escolha –, mas como teoria apenas me  merece repúdio. Li e ouvi em vários meios de comunicação social as alegações de  uma dirigente do Colégio Mira Rio, feminino, que este ano foi vencedor nesta  pretensa corrida ao pódio. A professora entende que o ensino diferenciado faz  toda a diferença, dada a ausência de homogeneidade em turmas mistas – às  raparigas assiste, diz, maior capacidade de análise, de síntese e de  concentração. Já os rapazes, esses valdevinos marialvas, recebem – com toda a  justiça, aparentemente! – tratamento especificamente dedicado à sua desatenção  crónica e criatividade infinda, e desde que o ensino seja adequado a estas  características tão próprias, também têm bons resultados no acesso ao ensino  superior. É, pelo menos, o que sucede no Colégio Cedros, masculino.
Numa era  em que a globalização e o cosmopolitismo marcam o correr dos dias, a  heterogeneidade, a não ser que comprovadamente nociva, deve ser preservada.  Valorizada e incentivada. A troca de experiências, de pontos de vista, a  comunhão de relatos e formas distintas de compreender a vida, são  mais-valias.
Quem entenda que a diferenciação supera as vantagens da  pluralidade, tem à sua escolha inúmeras opções. São válidas, correspondem a  prismas diversificados. O que me incomoda é que o objectivo quarto poder  carregue de subjectividade religiosa e de amparo à diferenciação de géneros a  informação que oferece, de forma neutra, ao público que a consome. Ou  terá sido um retrocesso social, o fim da diferenciação de géneros na rede de  ensino público?
Por Marta Rebelo em 5 dias
  
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