quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Menino não entra... (Gostava de ter escrito!)

Não gostei – continuo, aliás, a não gostar – da cobertura mediática do ranking das escolas secundárias do país. Não vou discutir o método de elaboração da lista, que se divide entre a crítica e o louvor – eu criticaria. Não discuto as opções educacionais dos pais, que preferem um colégio unisexo a uma escola mista. Nem levo esta modesta prelecção pelos trilhos da discussão em torno da qualidade do ensino público face ao privado, e vice-versa.
Não. O que me incomoda na forma como a comunicação social foi e vai destacando o assunto é o sublinhar constante da teoria da divisão de sexos no ensino. Que como opção ultrapassa o aceitável – haja liberdade de escolha –, mas como teoria apenas me merece repúdio. Li e ouvi em vários meios de comunicação social as alegações de uma dirigente do Colégio Mira Rio, feminino, que este ano foi vencedor nesta pretensa corrida ao pódio. A professora entende que o ensino diferenciado faz toda a diferença, dada a ausência de homogeneidade em turmas mistas – às raparigas assiste, diz, maior capacidade de análise, de síntese e de concentração. Já os rapazes, esses valdevinos marialvas, recebem – com toda a justiça, aparentemente! – tratamento especificamente dedicado à sua desatenção crónica e criatividade infinda, e desde que o ensino seja adequado a estas características tão próprias, também têm bons resultados no acesso ao ensino superior. É, pelo menos, o que sucede no Colégio Cedros, masculino.
Numa era em que a globalização e o cosmopolitismo marcam o correr dos dias, a heterogeneidade, a não ser que comprovadamente nociva, deve ser preservada. Valorizada e incentivada. A troca de experiências, de pontos de vista, a comunhão de relatos e formas distintas de compreender a vida, são mais-valias.
Quem entenda que a diferenciação supera as vantagens da pluralidade, tem à sua escolha inúmeras opções. São válidas, correspondem a prismas diversificados. O que me incomoda é que o objectivo quarto poder carregue de subjectividade religiosa e de amparo à diferenciação de géneros a informação que oferece, de forma neutra, ao público que a consome. Ou terá sido um retrocesso social, o fim da diferenciação de géneros na rede de ensino público?


Por Marta Rebelo em 5 dias

Sem comentários: